O ano de 2007 foi cheio em títulos de qualidade. Contudo, a grande maioria dos jogos com estampa de candidato a melhor do ano, assentou bases em fórmulas de sucesso pouco inovadoras e com garantias nas tabelas de vendas. Infelizmente, a margem de manobra para arriscar no desenvolvimento de jogos menos mainstream por parte das grandes produtoras, é cada vez menor. Portanto, a chegada à Europa de Endless Ocean, numa época em que Halo 3 e Call Of Duty 4 monopolizavam (e ainda monopolizam) o interesse dos jogadores, justifica este tributo.
Originalmente, Endless Ocean foi projectado para a Playstation 2 pela Arika, companhia que havia criado a série Everblue para a máquina da Sony. Mas acabou por ser a Nintendo, provavelmente com um orçamento bem mais interessante, que acabou por garantir que o jogo fosse apresentado como reforço do plantel da Wii.
Endless Ocean é um simulador de mergulho que oferece ao jogador a oportunidade de explorar o fictício oceano Manauri, enquanto recolhe informação e documentação fotográfica da diversa vida marinha presente. Para nos guiar durante a aventura subaquática, contamos com a ajuda de Catherine, uma bióloga marinha que, ironicamente, não sabe nadar. Temos à nossa disposição o indispensável e fiável equipamento de mergulho, que pode ser alterado ao longo do jogo conforme as nossas tendências de moda, o nosso rádio com aspecto muito século XX, mas que felizmente permite a leitura de ficheiros de música em formato MP3 a partir de cartões SD, e o nosso belo barco com influência transalpina, o Gabbiano.

Provavelmente, o melhor azul do mundo.
Não pretendo vomitar linhas de crítica à conduta das publicações de videojogos em Portugal, especialmente em papel, que por alguma razão continuam a empurrar títulos como Endless Ocean para um sítio escuro da prateleira. Contudo, talvez seja interessante reflectir na constante aposta em capas com tipos semi-nus e pneus no lugar dos músculos, quando verdadeiras pérolas continuam perdidas nas lojas nacionais.
Admito que a escolha de Endless Ocean para este post, não foi inocente. Gostava que o leitor pensasse na atitude completamente antagónica entre a Nintendo e qualquer outra companhia Ocidental. Será que Endless Ocean poderia ter sido publicado, por exemplo, pela EA? Não. Claro que não.
Um dos trunfos da gigante de Quioto nesta geração de consolas tem sido, indiscutivelmente, a completa devoção a um caminho muito próprio no desenvolvimento e consequente publicação dos seus jogos.

Ainda se queixam dos ataques de Pitbull... este devorava uns 1000 de uma vez.
Ao dar luz verde ao projecto Wii, o presidente da Nintendo, Satoru Iwata, abriu também as portas a companhias 3rd party, como a Arika, para que estas explorassem o (grande) potencial da nova máquina. A partir dai, as apostas em títulos Wii dispararam em direcções completamente apostas. Muito publisher de fato e gravata assumiu que o público da consola não se importaria em consumir compilações de mini-jogos, completamente desinteressantes e reutilizadas. Claro que os visionários do costume, leia-se companhias nipónicas com orçamentos inflamados, vestiram os fatos de macaco, pegaram no conceito Wii e elevaram-no em jogos como Zack & Wiki, Endless Ocean, ou o genial Super Mario Galaxy, da casa mãe.
Recentemente, uma publicação online norte-americana perguntou a Iwata-sama : “porque não apostar em Wii Sports 2?”. O boss da Nintendo respondeu categoricamente: “Seria muito fácil”. Mais uma vez pergunto, e o leitor desculpará a insistência, será que se a Activision detivesse os direitos de Wii Sports, já não teríamos quatro ou cinco sequelas no mercado? Ou talvez Wii Sports: Edição Pólo Aquático e Hipismo de competição?
Ainda bem que foi a Nintendo a trazer-nos Endless Ocean. Ainda bem que descobri a obra na Wii. Ainda bem que tive a oportunidade de descobrir a cantora neozelandesa Hayley Westenra (que rapidamente se tornou num caso de amor-ódio entre a comunidade de jogadores) ao comando do Wiimote, enquanto explorava o Oceano de Manauri.

Moonwalking + Aquaplanagem= lucro?
Se ficou curioso, saiba que pode adquirir Endless Ocean por uns míseros 30€ (!) em qualquer loja da especialidade em Portugal.
Agora sempre que olhar para a cópia de Smackdown Vs Raw 2008 em que estoirou quase 70€, amigo, chore muito. Os jogadores portugueses têm de entender de uma vez por todas, que o acto de consumir videojogos, como um fenómeno cultural, requer sobretudo bom gosto e sensibilidade e não necessariamente uma carteira gorda.
Já estás nos links da PS3-NEWS,
Gostei muito de ver a tua comparação de Endless Ocean com o resto dos títulos que practicamente dominaram o ano passado. Sinceramente, continuo a achar que Portugal ainda não está preparado para uma atitude de inovações brutas/drásticas, como é o caso da Nintendo, actualmente.
Na minha opinião, realmente, tens talento para escrever. 😀
Vou ficando atento aos teus artigos! XD