Se a corrente geração de consolas tem algum mérito social é, indiscutivelmente, o de expandir o fenómeno dos videojogos a um público alheio até aqui. Contudo, o imperialismo norte-americano quase omnipresente em todas as formas de media, exporta para o mundo jogos e conceitos autobiográficos que nós, europeus, aceitamos como simples meios de entretenimento ou repelimos definitivamente.
O último exemplo foi o lançamento circense da maior aposta da Rockstar e consequentemente da indústria, Grand Theft Auto IV.
Enquanto o mundo discute ferozmente os valores impressos no código genético da obra, milhões de jogadores nascidos na geração MTV elaboram argumentos para garantir aos pais a santa pureza em cada bala disparada por Niko e companhia.
Para mim, GTA IV é um petit nom para polémica propositada, portanto prefiro encontrar razões que justifiquem o crescente número de ilegais em Liberty City.
Recentemente, li comentários de jogadores alemães em fóruns de discussão, profundamente revoltados com a política de importação e distribuição de videojogos por parte dos responsáveis do seu país natal. Por mais estranho que possa parecer, identifiquei-me imediatamente com os meus colegas de vício.
Na Alemanha existe uma censura implacável em relação a videojogos e material lúdico com elevado nível de violência gráfica. Sem querer fazer uma análise no reino da sociologia, a expressão ironia mórbida parece adjectivar bem esta atitude de um povo com uma história recente pintada a cor de sangue.
Os consumidores da restante Europa ocidental não conhecem esta realidade germânica, tendo todos os títulos identificados como banhos de sangue não recomendados a crianças e frequentemente apelidados de ninhos de psicopatas, disponíveis no mercado sem qualquer género de limitações. Concluo que nós, portugueses, continuamos a não saber dar valor á uma liberdade artística e cultural. O mesmo acontece com os videojogos.
Sou honesto, nunca gostei, nem gosto da série GTA. Talvez por me considerar um neo-conservador no meio, o meu conceito de diversão digital baseia-se fortemente no trabalho visionário de mestres como Yuji Naka, Miyamoto e Kojima no passado, ou em Suda, Mikami ou Sakaguchi mais recentemente. Pertenço portanto ao grupo de liberais desavergonhados que honram as obras nipónicas com nostalgia, mas abraçam sem contemplações novos padrões da indústria como a Wii. O leitor pode então assumir que a minha veia oriental me impede de desfrutar parte maioritária do gozo de GTA.
A ideia de espancar um peão no jogo só porque o botão de acção se propõe a isso, representa a definição literal de sentimento antagónico, pelo menos no meu dicionário. O desinteresse é tanto que prefiro ganhar horas num qualquer beat’em’up banal do que gastar esse mesmo tempo em Liberty City. E não, caro leitor, não me juntei ao rebanho, não comprei GTA IV.
Muitos dos meus amigos mais chegados, teólogos no factor Grand Theft Auto, insistem que eu iria gostar da história da série. Sem recurso a qualquer figura de estilo, não me parece. A verdade é que nasci para os videojogos com uma ideologia muito racional e liberal, portanto assento ideias no velho chavão, gostos não se discutem.
A máquina de promoção por trás de qualquer lançamento de um título assumido e propositadamente polémico e controverso como GTA IV tem forçosamente que enfrentar odes de vozes contra o seu produto. É normal e relativamente pacifico que um determinado factor da sociedade se impinja contra algo que vai contra os seus valores pessoas e comunitários, se vivemos em democracia, que façamos uso dela. Aliás, nas ultimas semanas os debatas televisivos e radiofónicos têm tido grande repercussão principalmente no outro lado do atlântico, onde nomes como (o cliente do costume) Jack Thompson, Hilary Clinton e até pregador da moda Barack Obama, lançam considerações acerca do jogo e da sua influência nos jovens.
Não foram precisas noites sem dormir para chegar á conclusão óbvia e exclusiva neste caso: Grand Theft Auto IV causou uma válida e provavelmente desnecessária hiperbolização do assunto.
Descubra as diferenças.
Voltemos aos debates sobre o tema. Normalmente, opõem uma mãe de família escandalizada e facilmente impressionável ou um jornalista da velha guarda preocupado com a diabolização da juventude, a um representante da imprensa especializada em videojogos. Muitas das vezes, as conversas acabam com uma pergunta pouco inocente da parte do jornalista. “Já jogou GTA?”. Invariavelmente, a resposta é negativa.
É quase ridículo ver alguém assumir firmemente uma posição sobre o que quer que seja, sem qualquer fundamento prático da matéria. No que toca aos videojogos, essa ignorância técnica é sempre transparente em qualquer interlocutor presunçoso.
Mas, sublinhando a minha abertura democrática, proponho analisar as acusações dos queixosos. Centrando a controvérsia na violência, pergunto-me qual será o papel das indústrias de entretenimento com mais história para contar nesta bola de neve? Sem grandes engodos acuso frontalmente as grandes companhias discográficas e os barões silenciosos de Hollywood de hipocrisia e concorrência desleal. A indústria cinematográfica começa a viver um período decadente, desinteressante e de constante apoio nos videojogos. É a real personificação de uma sanguessuga, fazendo milhões às custas de produções baseadas em histórias digitais. Infelizmente para muitos semi-cinéfilos popcorn, nem sequer os projectos inversos, videojogos com base em filmes de estúdios com maior sensibilidade do mercado e do seu publico alvo, têm tido sucesso relevante na qualidade do produto e nas vendas (salvo raríssimas mas notáveis excepções). Os fantasmas á frente das editoras musicais não reagem ao fenómeno cultural dos videojogos nem têm voz activa na discussão supracitada. Preferem aconchegar-se numa máscara deplorável também conhecida por música pop mainstream, lucrando com sucessos efémeros.
Curiosamente, os camaradas activistas anti-violência nos videojogos e por vezes como consequência anti-videojogos no geral, preferem esquecer que o consumo de violência por parte de menores é frequentemente maior nas indústrias que referi. Não tenho formação nem conhecimentos apoiados na área da psicologia, mas parece-me evidente que em certos casos pode ser difícil para uma criança de sete anos distinguir o real do virtual e confundir valores. Mas se ao jogar GTA IV, o menor está pelo menos a divertir-se de forma razoavelmente inofensiva, o que sentirá o jovem a ouvir um tema rap extremamente ofensivo e muitas vezes, esse sim, catalizador de acções moralmente discutíveis? Porque será que um pai nega ao filho o acesso a videojogos do género, mas convida a cria para uma sessão caseira de Rambo? Parece que de repente, assassinar alguém numa letra musical ou num guião de um qualquer filme é perfeitamente banal e entendido como expressão artística, mas quando acontece o mesmo ao premir um simples botão, os programadores da Rockstar passam a ser os representantes do Demo na terra e símbolo máximo de tudo o que está mal no mundo.
Uff, sinto-me como um advogado de Phoenix Wright…
Não era muito mais interessante vê-lo com um comando de uma consola na mão?
Este é acima de tudo um problema social e não um atentado á saúde pública dos jovens. As pessoas tendem a temer o que desconhecem, e este é mais um caso que o confirma. Aliás, associar a palavra problema a esta discussão, é sobrevalorizar a mesma, já que as entidades reguladoras tiveram a sensibilidade consensual em catalogar GTA IV como um título destinado a jogadores com mais de dezoito anos. Presumo então que estamos na presença de uma não-polémica alimentanda por advogados do Diabo sem qualquer conhecimento de causa.
Quanto a mim, defensor empírico de Grand Theft Auto como uma forma de entretenimento e expressão artística, apenas condeno a Rockstar e a Take-Two por provocarem claramente algumas das críticas a que são sujeitos. Entendo que a implementação da habilidade de conduzir alcoolizado pode beneficiar e provocar um aumento na taxa de diversão por minuto pela qual a companhia é reconhecida, mas foi uma manobra de mercado algo deselegante e descarada. Certamente, mais alguns milhões de cópias vendidas…
Caro leitor, assumo que por esta altura já terá a sua cópia de GTA IV a fazer par com a sua Playstation 3 ou Xbox 360. Se é pai ou mãe de um rebelde que vos roga pragas por ter acesso vetado ao jogo, ou duvida que o disco seja aquele presente de aniversário ideal, talvez fosse melhor confirmar que conhece a personalidade do destinatário. A interpretação de qualquer acto de violência física ou verbal num videojogo é invariavelmente muito pessoal, mas apelando á minha costela hippie que grita: os videjogos são arte, prefiro recomendar a transmissão dessa mesma ideologia aos demais jogadores.
Definitivamente, sou um adepto incondicional de GTA IV. Perco-me no jogo, como se estivesse de visita uma cidade real.
A atenção dada ao pormenor é algo absolutamente magnífico, nunca antes visto num produto vídeojogável.
Na minha humilde opinião, é o pináculo de um género. Um marco da presente geração de consolas. Uma obra que fez história.
E não… não pertenço à geração PlayStation. Sou da velha guarda da indústria. Daquela muito velhinha. Velhinha ao ponto de ter tido a minha primeira experiência em pleno PREC, mais precisamente em 1975, na velha sala de arcadas do Apolo 70.
Não tenho como objectivo lançar dúvidas sobre a qualidade do jogo, ninguém as tem. O objectivo do artigo é reflectir no fenómeno mainstream e social à volta do jogo…
Mas considera-te um dinossauro do nosso meio, luxxx, ainda este escrivão sazonado não era nascido, já terias opinião sobre o assunto.