Xbox 360 para todos, ‘á americana’.

O belo do papel verdinho norte-americano, impulsionador do mercado de videojogos nos últimos anos, tem sido irresistível para os nipónicos mais submissos. A grande surpresa da conferência de imprensa da Microsoft, na E3 deste ano, foi, portanto, relativa. Yoichi Wada, presidente da Square-Enix, desferiu um golpe seco, suportado pela independência financeira e intelectual em relação à Sony, e pelo amor declarado aos jogadores ocidentais. O anúncio de Final Fantasy XIII como nova pérola no catálogo Xbox 360 representa mais que uma boa notícia para os fanáticos da série e donos exclusivos da caixa da Microsoft. A companhia americana reforçou uma liderança moral, financeira e prospectiva, contra uma rival perfeitamente abstémica, inviolável na sua filosofia interna. A Sony, melhor, a Playstation 3, perde assim a exclusividade dum franchise que se confundia com a própria marca. O leitor mais fervoroso, adepto incondicional do símbolo Playstation, sentirá a crise de identificação de forma mais orgânica. Paciência. Mas descanse; os responsáveis da Square-Enix não partilham o seu trilho emocional, para contentamento de milhões jogadores por esse mundo…

Quanto á restante informação exprimida da longa conferência, foi uma longa carta apaixonada, com destinatário por demais evidente: o rentável jogador casual. O simulador de karaoke, Lips, ou as sequelas Guitar Hero: On Tour e Rock Band 2, reforçam a nova cara da Xbox 360, também apontada aos adictos esporádicos. A clara colagem á estratégia adversária simboliza a tentativa fugaz de conquistar um nicho de mercado, há muito ignorado pela Microsoft. Resta esperar pela reacção do consumidor. Provavelmente o objectivo comercial será alcançado sem grande dificuldade, tendo em conta o mau momento da Sony nas consolas domésticas, mas duvido da operação de lavagem de imagem, em curso para a Xbox 360. Tentar associar um produto, tido em boa conta por adeptos da violência gratuita e acção ocidental na primeira pessoa, a um catálogo mais eclético, pode ser um erro. Fruto da ganância típica da companhia de Seattle, talvez, mas a qualidade estará, pelo menos, assegurada. As imagens de Viva Piñata 2 confirmaram a teoria. Mais do mesmo, sempre os pés bem assentes no chão e interpretação qualitativa acima da média.

Cliffy B., novo rockstar do panorama digital, fez questão de apresentar o fresquinho Gears of War 2. A audiência espelhou a válida expectativa em redor do jogo da Epic Games, mas a minhas hormonas ficaram inalteradas, estáticas perante tal arrogância do designer das massas. Como diria a velhinha mais simpática do palco cómico da televisão nacional, aquele homem “não me entra”. Que fazer?

Já Fable II, devidamente apresentado pelo muy-respeitado Peter Molyneux, confirmou as minhas expectativas mais optimistas. A essência da escolha, o prazer da aventura e o desenvolvimento de uma qualquer personagem, justificam a ânsia pela chegada do disco, em Outubro. Sem dúvida, um dos momentos da palestra.

Mas foi Resident Evil 5 que captou toda a minha atenção. O melhor entre o bom, a cereja no topo do bolo, ou outra analogia a gosto. A Capcom apresentou a funcionalidade de co-op, onde dois jogadores desafiam os zombies de África. Um pouco conservadora, mas extremamente funcional e entusiasmante. Contudo, fiquei pasmado com a aproximação, de todos os títulos em montra, á sensibilidade americana. É verdade que a grande maioria dos designers nipónicos já reconheceram a hegemonia financeira do país de todos nós, mas a americanização extrema de todo e qualquer produto, pior, ideia ou concepção, acciona aquele nervo que mantenho desde a infância. Se me dissessem, há oito ou nove anos, que Resident Evil viria a assumir uma mecânica de co-op, super inspirada pelo sucesso de… Gears of War, nunca acreditaria. Mas, relembrando a surpresa de Wada com Final Fantasy XIII, já não há heróis. Nem valores. Apenas números e pasta da grossa. Que a feira de Los Angeles sirva como reflexão, europeia e japonesa, sobre o assunto…

Fiquei satisfeito com o anúncio da nova actualização para a dashboard da Xbox 360. A implementação dos Mi… Avatares sublinha a aproximação a outro público, por parte da Microsoft. Tudo bem. O sistema parece apelativo, suficientemente básico e acessível. O leitor, jogador mais casual e provável chefe de família, ficará satisfeito com os mini jogos familiares, descomplexados e bastante objectivos. Já o amigo mais empenhado, passará minutos a construir um modelo adaptado á personalidade reconhecida, mas aposto: a distracção será supérflua. Mas enquanto o esperado update não chega, fico com a sensação que os senhores Iwata e Miyamoto estarão bem confortáveis, no topo da cadeia alimentar, a rir. A rir muito, mesmo.

Pesando as notícias saídas da conferência, o saldo acaba por ser positivo para as duas partes interessadas. A Microsoft tenta um equilíbrio, num catálogo de serviços já bastante forte, enquanto o consumidor vê o leque de opções aumentar substancialmente. Mas o factor risco continua presente. A imprevisibilidade da competidora directa coloca a Xbox 360 num poleiro momentâneo. Já que a Wii joga noutra liga, resta esperar para ver o comportamento da Playstation 3 no mercado. É importante contar a pólvora que resta à Sony, para o ataque final a 2008.

4 Respostas to “Xbox 360 para todos, ‘á americana’.”


  1. 1 Durval Quarta-feira, Julho 16, 2008 às 17:52

    Boas Daniel. Sinceramente sinto-me cada vez mais seduzido pelo catálogo da 360, sendo o meu único receio a sua fama de pouca durabilidade e um numero elevado de problemas como os aneis vermelhos. Mas parabéns á microsoft por virar-se para o mercado casual sem “esquecer” os gamers mais “antiquados”…(é como me sinto)

  2. 2 Rob Hubbard Quarta-feira, Julho 16, 2008 às 19:17

    Boas, bela crónica que espelha um pouco a minha opinião como tens visto pelo GameOver.
    Ao menos a MSFT está casual mas sem abandonar os casual gamers. Cliffy B também me irrita mas é das “coisas” necessárias para um industria que precisa urgentemente de novos nomes.
    Kojima, Myamoto, Famito Ueda são tudo criadores orientais aos quais por norma no ocidente não existido um culto tão grande da personagem dos criadores.
    Gabe Newell, Cliffy, Peter Molineux personificam um pouco o ocidente mas ainda há poucos.
    Faz-nos lembrar que apesar de existirem jogos com equipes de mais de 100 pessoas os mesmos continuam a sair da cabeça de alguém 🙂

    Os meus parabéns pelo teu blog que espero que dure bastante.

  3. 3 Alexandre Quinta-feira, Julho 17, 2008 às 11:18

    Na minha opinião (que está mais detalhada no nosso blog, acessem! ), a Microsoft está ficando um pouco assustada com a perda da vantagem que tinham na next-gen (já são segundos depois do Wii, e o PS3 está começando a chegar perigosamente perto) e estão tentando atirar em todas as direções.

    O mercado casual nessa geração, não tem como negar, é da Nintendo. A MS deveria focar mais no mercado “hardcore” para não dividir recursos – lembrando que o X360 continua dando um prejuízo monstruoso, e um dia os acionistas da MS vão se cansar…

    Sobre a conferência da MS: na boa, se a gente não contar FFXIII, foi mais do mesmo. Apenas jogos e gimmicks já anunciados. E as da BigN e da Sony mais ou menos a mesma coisa…

  4. 4 Bruno de Figueiredo Quinta-feira, Julho 17, 2008 às 15:13

    A E3 sempre foi uma feira com maior incidência na parte financeira da indústria do que na componente criativa ou mesmo divulgativa. A questão dos mercados é sempre interessante de analisar, mas todas estas movimentações de bastidores apenas servem para toldar os nossos sentidos quanto à real incapacidade da maioria dos estúdios em criar conteúdos de qualidade nos seus jogos de vídeo, um problema a meu ver muito mais preocupante do que a disputa pela exclusividade em terras ocidentais de um jogo sobre o qual se especula em demasia e do qual “nada” se conhece ainda.

    Já a Sony faz uma apresentação quase toda baseada em sequelas – Resistance , Motorstorm , Ratchet , etc. – numa altura em que procura reagrupar o seu público. Não é necessária uma biopsia à corporação da empresa para diagnosticar os seus sintomas de destituição e mudança de identidade, próprios de uma marca que procura a todo o custo penetrar nesse mercado de supostos jogadores “hardcore” – aqueles que num ápice se fascinaram pelos cheap thrills do amplo catálogo de shooters da Xbox 360 e da acessibilidade do seu jogo online.

    Quanto à Microsoft e à Nintendo, a ausência de produtos novos (ou inovadores) já vem sendo comum dos últimos anos. Fable II propõe uma aposta mais audaz da Microsoft este ano, porém uma sequela de um título cuja discrepâncias todos recordarão. Novamente as sequelas, Gears of War 2, Viva Piñata 2 e Banjo 3 perpetuam os velhos modelos de jogos. Alan Wake , aquele que poderia iluminar todo o evento com o seu aparente cariz renovador ficou-se pelo anonimato – na opinião de muitos mais um projecto em perigo de ser cancelado. Mirror’s Edge remonta a um plano de jogo que já se sabe ser efectivo dando-lhe um novo alento, ainda que qualquer juízo definitivo do jogo terá obrigatoriamente de passar pelo seu teste in loco.

    Em suma, correu muita tinta sobre esta nova E3 . Peneirada a informação, pergunto eu o que resta para além do habitual prolongamento daquilo que já conhecemos? Se eu infiro algo desta exposição, terá necessariamente que ver com a crise de criatividade e originalidade da indústria – o problema das sequelas já não se encontra assim tão localizado que o possamos continuar a atribuir somente à EA ou às sagas perenes de JRPG . Pessoalmente, isso preocupa-me bem mais do que contratos de exclusividade (que sempre existiram e sempre foram distorcidos mediante as necessidades dos interessados) ou o orgulho extremo de uns poucos fanáticos pela sua consola de eleição.


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