O que é preciso para imaginar uma experiência digital de excelência? Será que um orçamento inflamado e uma equipa suficientemente grande para ocupar um pequeno país servem o propósito inicial: imaginar um mundo divertido e diferente? No alto da minha certeza frágil mas directa, digo que não. Pintar uma tela com rios de pixeis mascarando linhas de código elegantes e nostálgicas, pode ser um fruto, bem docinho e apelativo, concebido a duas mãos. Ou a duas mentes. Tom Fulp, fundador do fantástico NewGrounds.com, e o artista Dan Paladin, encaixam perfeitamente nesta analogia. Graças a uma imaginação fértil e trabalho dedicado, o par de pioneiros norte-americanos elogia uma geração de títulos banalmente reciclados com a criação e investimento em Castle Crashers, a nova proposta de luxo do catálogo do Xbox Live Arcade.
A origem da magia rejuvenescedora das obras da The Behemoth, estúdio fundado por Paladin e Fulp, entre outros, está perfeitamente identificada: Alien Hominid. Foi com este pequeno (grande) projecto baseado na mecânica flash que a química criativa encantou uma audiência global, já que o título foi devidamente editado para as três plataformas domésticas que desfilavam em 2004: Gamecube, Playstation 2 e Xbox. O jogo era demasiado intuitivo e interessante para passar despercebido; as comparações com glórias do passado digital eram inevitáveis. Mas, seria Alien Hominid um clone mutante de Metal Slug, da SNK? Longe disso. O simpático bicharoco amarelo, que protagoniza o scroller horizontal, tem identidade própria, diferente e apelativa. Cruzar uma paleta de esboços entusiasmantes de Dan Paladin, disparando resmas de raios mortíferos pelo caminho, confirmou a qualidade do sumo conceptual da The Behemoth. Mais importante: mesmo com ecos de fosseis em boa conta, Alien Hominid era extremamente divertido, quando consumido em doses recomendáveis.
Castle Crashers, devidamente enfeitado com honras de blockbuster do serviço de distribuição digital da Microsoft, expande a mitologia do dueto de criadores de sonhos. Centrando a opinião na minha experiência inicial com o jogo, o espanto e surpresa em ver algo tão singular e colorido superou qualquer expectativa. Fiel leitor deste cantinho independente, acredite na palavra do amigo escrivão: basta passar a vista pela apresentação e menus de Castle Crashers para derreter qualquer barreira gélida que possa manter contra obras policromáticas e excepcionais. A sonoplastia deliciosa e, sim, nostálgica, está carregada de humor e acompanha o estilo artístico de Dan Paladin na perfeição. Essa mesma identidade visual é, aliás, uma das estrelas mais brilhantes no circo criativo de Castle Crashers. As personagens quase adoráveis, mas aguerridas e com um desenho marcante, são sublinhadas com uma sensibilidade humorística notável, a roçar o brilhantismo. Inimigos centrais e aliados à parte, será possível nao esboçar um sorriso, mesmo tímido para o leitor mais duro, quando a ‘fofura’ de um pequeno veado se transforma numa diarreia forçada pelas forças do mal e da… Natureza?
A animação simplista mas originalmente competente de Castle Crashers gera um código genético invulgar na indústria, digno de registo.

Corrida de apostas... com veados adoráveis?
Infiltrados num ambiente medieval, os quatro pequenos guerreiros de Castle Crashers tentam salvar um grupo de princesas anteriormente raptadas. E pronto, está esboçada a premissa para o enredo do título. Provavelmente não esperaria mais, mas que ambiente pseudo-apocalíptico poderia resultar numa obra do género? Castle Crashers prova que a simplicidade conceptual resulta como principal arma de uma alma maior, de um quadro bem ilustrado e lúdico até ao rolar dos créditos.
A mecânica de jogo acaba por ser o maior triunfo prático de Fulp e Paladin, nesta aventura no território Xbox 360. Mais uma vez, a simplicidade aditiva, e reaccionária a um estado de sítio preocupante no panorama de desenvolvimento ocidental, resulta numa aventura, com tiques de RPG, muito bem conseguida. Encarnar um cavaleiro valente, com uma colecção de armamento e magia invejável, numa saga com mais três companheiros, localmente ou em rede, proporciona uma experiência simbiótica. Raramente o prazer e a criatividade andaram janotas, de mão dada, na corrente geração de propostas digitais.
Sem debitar as linhas típicas numa análise criteriosa, que este texto sirva de incentivo ao jogador mais indeciso, e provável adepto das maravilhas do Xbox Live Arcade. Castle Crashers não é apenas uma mescla saudável entre saudosismo e originalidade, é, acima de tudo, um jogo de altíssimo valor e facilmente recomendável.
Entretanto, ainda me falta salvar um par de princesas… Arghhhh!
Senhor Daniel queremos mais posts!!! 😀