Ninguém ousa citar os méritos de Grim Fandango ou The Secret of Monkey Island sem louvar a criatividade do norte-americano Tim Schafer. A mente de Schafer brotou títulos aclamados mundialmente, formando uma legião de seguidores entusiasmados com cada passo do artista. Quando deixou o seu empregador de sempre, a LucasArts, Tim apresentou a sua persona engravatada e de mala de couro na mão para fundar a Double Fine Productions, em 2000. A magia das suas criações ficou, no entanto, intacta. A obra original Psychonauts, o primeiro projecto da Double Fine, rejuvenesceu a minha fé pelos títulos de plataformas na geração 3D. Schafer puxou da caneta mágica, embutida na melhor tinta humorística, para elaborar um guião tão ingénuo como delicioso. Psychonauts conta a aventura de Raz, um rapaz (?) com poderes psíquicos que acaba por ingressar num acampamento de Verão, especial para crianças com esse tipo de dotes. Durante a sua estadia no malfadado acampamento, Raz conhece personagens lendárias, com personalidades hilariantes e estranhamente Humanas, enquanto é envolvido numa conspiração interna. Ora, para resolver a premissa do enredo, Raz terá que viajar pela mente de várias personagens, navegando por pesadelos, sonhos e fantasias. É ai, nessa mescla de loucura, esquizofrenia e genialidade, que Psychonauts brilha. A obra da Double Fine apresenta uma visão muito própria de cada mundo, de cada nível espelhado em cérebros alheios. A equipa de Tim Schafer pintou Psychonauts com cores vibrantes, por vezes escuras e quase depressivas, ilustrando sentimentos e camadas de pensamento que transcendem a aparência infantil e simplista da obra. O desenho de níveis, incrivelmente competente o original, sugere muita atenção ao detalhe e, com outra relevância, a paixão da Double Fine pela arte que cria e exprime. Todos os elementos clássicos dos jogos de plataformas, como o coleccionismo esporádico, a navegação linear mas bem orientada e a facilidade de controlo, estão embutidos no disco de Psychonauts. O produto final, que foi criminosamente esquecido pelos consumidores de algibeira, ainda embeleza a minha prateleira de sonhos; Psychonauts é uma obra prima, incomparável por ser diferente, apaixonante e divertida quanto baste.
10+ PlayStation 2 – #8 Psychonauts.
Published Sexta-feira, Julho 31, 2009 Os 10 + 3 CommentsEtiquetas:double fine, plataformas, ps2, psychonauts, Tim Schafer, top 10, tributo ps2
Psychonauts é muito bom, talvez um dos maiores ‘underdogs’ dos últimos tempos. Mas em parte, penso que o problema poderá ter tido a ver com os níveis em si. Se o conceito de nível enquanto plano psicológico ou entidade viva (ou até um “inimigo” a entender e combater, digamos) é excepcional, as mecânicas de exploração e “Pokemonices” revelaram-se bem mais enfadonhas à medida que se avançava no jogo. Não será o primeiro jogo a surpreender nos primeiros momentos e lentamente tornar-se uma colecção de interacções maquinais e previsíveis, mas a ideia merecia ser muito mais bem explorada. Felizmente, o humor encarregou-se de o manter bastante aprazível durante toda a experiência 🙂
É verdade que a mecânica de colecção pode tornar-se enfadonha para os mais impaciente, ou para quem dispensa o perfeccionismo. Mas nunca fiquei desiludido com o desenho de níveis ou estrutura dos mesmo; é tudo bem aproveitado, de forma conservadora mais visionária. Contudo, Psychonauts vale, sobretudo, pela escrita, humor e ideias na exploração da ‘mente’ das personagens. É fabuloso 😉
Já agora, Diogo, essa descrição de desilusão com a estrutura do jogo lembrou-me Fahrenheit (ou Indigo Prophecy, nos EUA). Começa MUITO bem, acaba de forma terrível… 😦
É verdade, o Fahrenheit também é outro exemplo disso. Talvez dos melhores inícios para um videojogo, e quando tudo parece caminhar bem… 😦
De caminho, aproveito para desejar um bom fim de semana 😉