Archive for the 'Primeira Impressão' Category

Um Ninja em Hollywood.

Otogi foi um dos melhores títulos a nascer na Xbox original. Mais, o slasher da From Software teve o mérito, algo obscuro no panorama de então, de apresentar uma paleta de cores fantástica e competência técnica de excelência. A magia fantasiada do Japão feudal, combinada com um enredo interessante e uma elevada dose de divertimento por segundo, garantiu um lugar especial da obra no meu baú de memórias. A sequela confirmou a qualidade da equipa por trás de Otogi, oferecendo mais personagens jogáveis, jutsus e ambientes luxuosos.

A simpatia habitual dos habitantes de Tóquio.

A simpatia habitual dos habitantes de Tóquio.

A produtora responsável por outras experiências digitais de renome, como as séries Tenchu e Armored Core, volta ao maior palco da industria, apresentando Ninja Blade, um exclusivo Xbox 360. Com a demonstração disponível no marketplace do Xbox Live, resolvi testar a premissa dum título que tenta ser uma mistura de acção cinematográfica com uma mecânica, mais conservadora, de interesse.
Toda a apresentação inicial consegue ser espantosa, limpa e bem dirigida. Adorei o filtro verde, urbano e original impresso no grafismo, desde o primeiro minuto da cena introdutória à missão do nosso Ninja. O interprete da aventura será Ken Ogawa, um soldado-Ninja que aparenta ser um homem de poucas palavras. Para além de ostentar um trabalho de voz em língua inglesa de chorar (a rir), Ken parece prendado de um talento natural para matar tudo o que mexe. Embora o enredo, baseado em mutações genéticas que ameaçam a cidade de Tóquio, não tenha a melhor premissa de um título do género, admito a satisfação em esquartejar violentamente monstros atrás de monstros, na primeira sequência de acção em Ninja Blade. A mecânica é acessível, com botões para ataque directo (fraco e forte) com armas, defesa, dash, jutsus mágicos e a possibilidade de entrar num modo de câmara-lenta que apenas afecta os adversários de Ken. Contudo, foi a fluidez no combate que mais me satisfez. Embora as combinações de ataque sejam semelhantes ao que vi em Ninja Gaiden II, a liberdade de execução é maior que na obra da Team Ninja. Desta vez, qualquer jogador interessado poderá dominar as combinações no menu de tortura de Ninja Blade. Os inimigos nesta demonstração não serão tão hostis como na versão final, é certo, mas sublinhe-se a facilidade evidente em ‘despachar’ bicho atrás de bicho, recorrendo às várias armas no arsenal do Sr. Ogawa. ‘Poder ao povo’, portanto.
A interacção da nossa personagem com o cenário é desanimadora. Embora as wall-run da praxe marquem presença, o cenário de combate pareceu-me limitado e castrador, já que apenas limita a arena, sem grande elemento estratégico a considerar.

Ken Ogawa é o primeiro Ninja com carta de motociclos!

Ken Ogawa é o primeiro Ninja com carta de motociclos!

Ninja Blade quer ser uma grande produção de Hollywood… à força. A inclusão dos (polémicos) Quick Time Events não serve apenas os propósitos normais da acção; marca toda a estrutura de combate e experiência visual. Aliás, mais de metade do tempo de jogo na demo, está reservado a estas sequências de acção. Este recurso é utilizado, por exemplo, ao desafiar a gravidade para entrar num edifício, ao descer esse mesmo edifício aniquilando monstros pelo caminho, e ao derrotar o boss final da demonstração… no edifício. Mas, estranhamente, gostei bastante destas sequências. Premir um qualquer botão rapidamente, para efectuar determinada acrobacia ou enviar uma bola metálica gigante contra um aracnídeo ainda maior, acaba por ser… divertido. Talvez pela acção ser tão espectacular e bem coreografada, e pela imersão e atenção constante que desperta ao jogador. Para o registo, a última vez que me diverti com uma mecânica semelhante foi em Resident Evil 4… Não poderia fazer melhor elogio à vertente de “filme de acção” de Ninja Blade. Só peço equilibro entre estas cenas e os combates em tempo real, no produto final.

Este Ninja Blade está, portanto, bem interessante. Mas, ao contrário dos mais fanáticos pela utopia de Itagaki, não espero pelo ‘sucessor espiritual’ de Ninja Gaiden. Espero uma nova proposta Ninja, com altos níveis de competência e qualidade, e, se possível, com um rasgo da alma de Otogi. Pela amostra em causa, a From Software está no bom caminho…

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Primeira impressão: Project Zero: Mask of the Lunar Eclipse.

Respeito o trabalho do designer Keisuke Kikuchi na série Fatal Frame, ou Project Zero na Europa. Mas, por razões que prefiro riscar do mapa de prioridades, nunca estive atraído pelo género da moda no extremo oriente; terror nipónico, com direito a flashes de miúdas saídas do pior banho de lama do mundo. E fantasmas dos mais genéricos da montra ficcional, jogável ou cinematográfica. Aliás, Project Zero sempre viveu do ambiente fantasmagórico, assustador e claustrofóbico imprimido pela ‘mãe’ Tecmo. A mecânica da famosa ‘Camera Obscura’ complementa uma ideia gráfica, quase experimental, mas bem aceite pelo nicho de mercado a que se destina. Para o registo, o meu irmão mais novo delira com os sustos aleatórios dos três títulos, e está em alarme com o provável lançamento do quarto capítulo, Project Zero: Mask of the Lunar Eclipse, para a Wii.

Sorte a minha, ‘roubei’ umas horas ao comando do Wii Remote e Nunchuk com disco japonês da obra, 零~月蝕の仮面, Zero ~Tsukihami no Kamen~. Sem grandes expectativas, a maior curiosidade estava no trabalho de Goichi Suda, o novo ícone máximo da indústria de culto, tendo assinado favoritos pessoais como No More Heroes e Killer7. O presidente/designer do ninho de talento que é a Grasshopper Manufacture, aliou-se à Tecmo para tentar adaptar Project Zero à coqueluche branca da Nintendo. O resultado? Algumas fotos desfocadas ou lado e uma dose de conservadorismo inesperada…

Para o leitor mais entusiasmado, saiba que o primeiro capítulo do jogo serve como uma introdução, ao ambiente e mecânica da obra. A jogabilidade está afinada, muito óbvia e de fácil adaptação ás especificidades da Wii (utiliza-se o Wii Remote para controlar a câmera e disparar a mesma, movimentando a personagem com o Nunchuk), mas sofre pela falta de ambição conceptual e inesperadas quebras de animação (frame-rate) que prejudicam o objectivo máximo da experiencia: o susto. Sustos que se prolongam, nos dois capítulos que explorei no teste realizado a baixa luz e ambiente quase sombrio, sempre apoiados por cut-scenes competentes e muito, muito inspiradas nos planos cinematográficos das melhores obras de terror japonês. Ironicamente, a alma provocadora e revolucionária de Suda51 não parece ter ganho terreno á ideologia inicial de Kikuchi. Um alivio para o adepto tradicional de Projecto Zero; uma nota de desapontamento para mim…

O melhor da minha curta experiência em Mask of the Lunar Eclipse foi absorver toda a atmosfera, perfeitamente sinistra, pintada com uma interpretação artística que sublinha a mansão, onde decorre a acção central da trama, como uma personagem ‘viva’. Claro que alguns objectivos básicos e muito banais, como encontrar a chave para determinada porta, não me convencem, considerando os nomes envolvidos no projecto.

A primeira impressão resume-se numa mescla de emoções. Se fiquei surpreendido com a realização interessante e perfeitamente adaptada á experiência Wii, uma dose de problemas técnicos e confusão conceptual dividem o julgamento inicial. Mas, tendo em conta que a Tecmo ainda não se lembrou de datar o jogo para a Europa, mantenho a esperança de ver e jogar algo grandioso, e sobretudo diferente, nos restantes capítulos da aventura. Está na altura de voltar ao quarto escuro…

A revolução táctil de Link.

O leitor acreditará num valor fundamental da minha aventura nos videojogos: sou um estóico resistente do conservadorismo instalado. Abraço qualquer proposta rejuvenescedora de uma série, sem complexos ou preconcepções. Mesmo quando a série é The Legend of Zelda, a mítica epopeia da Nintendo que quase monopoliza o meu lado meloso. Contudo, com a conhecida azáfama urbana e, pior, pessoal, acabo sempre por deixar escapar uma ou outra pérola. Mas não desta vez.

Estive quase a comprar Phantom Hourglass em Outubro do ano passado, por altura do lançamento europeu do título para a Nintendo DS, mas – admito com vergonha – passei a senha ao cliente seguinte. Como a minha aposta em sugestões portáteis é muito ocasional mas sempre objectiva, lá fui eu ás compras, com a sensação de estar atrasado para a festa. Valeu-me a rara competência dos correios, que não me fez sofrer mais. Deixaram a galinha na toca da raposa.

Com apenas uns breves minutos ao comando (literal) do mal-amado toon Link, já sinto a pesada herança do brilhante The Legend of Zelda: The Wind Waker no código genético da obra. E ainda bem. Cheira-me a reinvenção do perfeito.